quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

DESASTRE QUÍMICO DE BHOPAL


DESASTRE QUÍMICO DE BHOPAL

INTRODUÇÃO

Os países em desenvolvimento, como a Índia, são particularmente vulneráveis, principalmente, porque eles não têm a infra-estrutura (por exemplo, treinamento, comunicação, educação,
etc) necessária para manter a tecnologia. Mas são, no entanto, ansiosos para criar e manter unidades industriais. Como resultado, eles entram numa competição global para atrair multinacionais, empresas para seus investimentos e capital, e, neste processo, muitas vezes tendem a ignorar as normas de segurança e saúde.
Tais países conferem a uma multinacional vantagem competitiva, porque eles oferecem baixo
custo de trabalho, acesso aos mercados, e os custos operacionais mais baixos. Uma vez lá, as empresas têm pouco incentivo para minimizar os riscos ambientais e humanos. Ausência de regulamentação ambiental e de segurança, ou mesmo a existência inadequada de investimento em equipamentos de segurança, e as comunicações pobres entre empresas e governos agravar o problema.
A facilidade de instalação de indústrias em Bhopal foi parte da Revolução Verde da Índia que
teve como objetivo aumentar a produtividade das culturas. Considerado um elemento essencial no esforço para alcançar a auto-suficiência na produção agrícola, o uso e produção de pesticidas aumentaram dramaticamente durante o final dos anos 1960 e início dos anos 1970. A decisão para fabricação dos pesticidas na Índia, em vez de confiar em importações foi baseado em meta da Índia de preservar sua política de industrialização. Em 1969, Union Carbide criou uma pequena fábrica (Union Carbide India Ltd.- UCIL) em Bhopal para formulação de pesticidas.
Bhopal foi escolhido como o local para a fábrica por causa da sua localização central na
Índia, por possuir um sistema ferroviário que atravessava o país, um grande lago que forneceu uma fonte confiável de água e eletricidade suficiente e força de trabalho para sustentar uma larga escala industrial. A instalação da UCIL foi localizada ao norte da cidade, adjacente a um já existente bairro residencial e apenas dois quilômetros da estação ferroviária. A Union Carbide afirma que os "assentamentos" ao redor da fábrica só chegaram depois da instalação da mesma. No entanto, as três comunidades mais afetadas no desastre aparentemente já existiam antes da fábrica da Union Carbide abrir. (AMERICAN UNIVERSITY, 1997).
Na madrugada entre dois e três de dezembro de 1984, 40 toneladas de gases letais vazaram
da fábrica de agrotóxicos da Union Carbide Corporation, em Bhopal. Foi o maior desastre químico da história. Gases tóxicos como o isocianato de metila e o hidrocianeto escaparam de um tanque durante operações de rotina. Os precários dispositivos de segurança que deveriam evitar desastres como esse apresentavam problemas ou estavam desligados.
Estima-se que três dias após o desastre 8 mil pessoas já tinham morrido devido à exposição
direta aos gases. A Union Carbide se negou a fornecer informações detalhadas sobre a natureza dos contaminantes, e, como conseqüência, os médicos não tiveram condições de tratar adequadamente os indivíduos expostos. Mesmo hoje os sobreviventes do desastre e as agências de saúde da Índia ainda não conseguiram obter da Union Carbide e de seu novo dono, a Dow Química, informações sobre a composição dos gases que vazaram e seus efeitos na saúde.
Infelizmente, a noite do desastre foi apenas o início de uma longa tragédia, cujos efeitos se
estendem até hoje. A Union Carbide, dona da fábrica de agrotóxicos na época do vazamento dos gases, abandonou a área, deixando para trás uma grande quantidade de venenos perigosos. A empresa tentou se livrar da responsabilidade pelas mortes provocadas pelo desastre, pagando ao governo da Índia uma indenização irrisória face a gravidade da contaminação.
Hoje, bem mais de 150.000 sobreviventes com doenças crônicas ainda necessitam de cuidados médicos, e uma segunda geração de crianças continua a sofrer os efeitos da herança tóxica deixada pela indústria. (GREENPEACE).
O objetivo deste trabalho consiste em relatar esse terrível desastre, no intuito de alertar sobre
a importância das medidas de segurança, afim de se evitar acontecimentos semelhantes no futuro.

 O ACIDENTE

Às 23 horas em dois de dezembro de 1984, enquanto a maioria dos um milhão de habitantes
de Bhopal dormia, um operador da fábrica notou um pequeno vazamento de isocianato de metila (MIC)[1] e aumento da pressão dentro de um tanque de armazenamento.
O purificador de ventilação de gás, um dispositivo de segurança para neutralizar descarga
tóxica do sistema MIC, tinha sido desligado três semanas antes. Aparentemente, uma válvula defeituosa permitiu que uma tonelada de água para a limpeza de tubos internos se misturasse com quarenta toneladas de MIC. Imediatamente um dispositivo automático disparou o antídoto previsto para tais casos: um sistema de aspiração que deveria transferir a substância letal para um depósito de 15 metros de altura onde uma solução
neutralizaria seus efeitos danosos para a saúde, antes de liberá-la na forma de gás para a atmosfera. Mas algo de errado se passou. (REVISTA VEJA, 1984)
A pressão e o calor a partir da reação exotérmica vigorosa no tanque continuaram a crescer.
Até que um alarme soou, dando sinal de que a válvula de segurança de um dos tanques rompera-se. A pressão estava aumentando no tanque - e o isocianato de metila, ali mantido em forma líquida, ameaçava escapar se o tanque explodisse. Os funcionários logo perceberam que a substância estava saindo depressa demais e que, apesar da transferência para o depósito neutralizador, a pressão no tanque continuava a aumentar vertiginosamente. A operação transferência falhara.
Em segundos outro alarme ecoou e os funcionários, ao contrário do que estavam acostumados a fazer nos exercícios de prevenção, não ligaram as mangueiras destinadas a esfriar o tanque. Em vez disso, fugiram. Eles sabiam que tinha acabado de se concretizar o que pode acontecer de pior com o isocianato de metila: passar do estado líquido para o estado gasoso, transformando-se num assassino silencioso e devastador.
Rapidamente, uma nuvem de gás venenoso surgiu da válvula defeituosa e começou a encobrir a usina. Levada pelas brisas noturnas, em poucos minutos a massa gasosa pairava sobre o território vizinho da fábrica, ocupado pelo bairro Jayaprakash Nagar, um amontoado de quase 2.000 barracos miseráveis. Quando o sol apareceu na segunda-feira, uma área de 40 quilômetros em torno da Union Carbide transformara-se numa letal câmara de gás.
Mais de 25.000 toneladas de isocianato de metila haviam escapado para a atmosfera - e Bhopal, uma cidade histórica de 900.000 habitantes construída no século XI, inscrevera-se como palco da mais devastadora catástrofe já desencadeada por uma substância química em tempos de paz. Em menos de 48 horas, mais de 2.000 pessoas foram mortas por asfixia, a maioria enquanto dormia. Dos 50.000 feridos, quase a metade ficou cega, com as córneas ulceradas pelo gás, e passaram dias vagando pelas ruas da cidade à procura desocorro.
O governo indiano estima que 15 mil pessoas morreram nestes 20 anos em decorrência da contaminação, mas ativistas falam em quase 33 mil vítimas no total. (AGÊNCIA EFE, 2004).Vários estudos epidemiológicos realizados logo após o acidente mostrou significativa
morbidade e aumento da mortalidade na população exposta. A Tabela abaixo resume os efeitos imediatos e tardios sobre a saúde. (AMERICAN UNIVERSITY, 1997).

MEDIDAS DE SEGURANÇA

Se o MIC for mantido arrefecido não é violento, mas se for misturado com água, ferve

perigosamente e acabará por explodir. Esse perigo era bem conhecido. Independentemente de como aconteceu o desastre, deveria ter sido contido por medidas de segurança que são necessárias e exigidas para essas substâncias químicas mortais, desde que as vidas das pessoas não sejam comparadas às pestes a serem eliminadas pelos produtos da empresa. É verdade que foram instalados quatro sistemas de segurança diferentes para impedir a água de entrar no tanque de MIC da fábrica. Mas a investigação da New Scientist argumenta que

não foi contida porque “Bhopal tinha um equipamento de emergência muito mais limitado que o da fábrica da Carbide nos EUA.” Nessa noite não funcionou nenhuma das quatro medidas de emergência.
Um sistema de refrigeração – um sistema de arrefecimento que teria prevenido a reacção entre o MIC e a água que entrou no sistema – estava desligado. Pelo menos, teria reduzido a velocidade do processo e os trabalhadores poderiam ter cheirado a fuga e encontrado a sua fonte.
Um segundo sistema de segurança, as “escovas de gás” que poderiam neutralizar o MIC com
refrigerante cáustico, não estava em operação. Estava apenas em espera.
Ao contrário da fábrica dos EUA, Bhopal não tinha nenhum tanque crucial de “recolha” para onde poderia ter escoado a massa de substâncias químicas que ferveram para fora do tanque de MIC. Dessa maneira,
só teriam escapado os gases que poderiam ter sido queimados no exterior através de torres de labareda ou filtrados no exterior através das “escovas”.
O terceiro dispositivo de segurança que ainda poderia ter impedido o desastre, a torre de
labareda, não estava a trabalhar. Estava fechada para reparação na noite do acidente. A fábrica dos EUA tinha uma segunda, de reforço. A única “escova” de Bhopal ficou subjugado pela massa de líquidos e gases a ferver a uma taxa cem vezes superior àquela para que fora projectada.
As acções da Union Carbide são um exemplo claro de como os imperialistas valorizam a vida
das massas, especialmente nas nações oprimidas. Mesmo quando se trata de medidas de segurança simples e óbvias, eles têm um duplo padrão. A causa principal do desastre não foi nenhuma negligência por parte dos trabalhadores da empresa ou dos responsáveis dos níveis inferiores. Foi o projecto e os procedimentos de
operação da própria fábrica, que pode ter seguido instruções da sede da Union Carbide nos EUA, e que de qualquer modo foram aprovados por eles, de acordo com um memorando de 1972 da empresa. A razão básica não foi algo impossível de prever mas todo o funcionamento demasiado previsível de um sistema movido pelo lucro, mesmo que à custa das vidas de dezenas de milhares de pessoas e da miséria de centenas de milhares.
Para usar termos mais imediatos, a Union Carbide tinha estado a tentar atingir a rentabilidade à custa de medidas elementares de segurança e colocou toda a cidade em perigo desnecessário.
As medidas de seguranças para os trabalhadores de Bhopal, assim como para qualquer
trabalhador exposto a agentes químicos devem ser aquelas que visam a prevenção do acidente, tendo em vista que a gravidade de acidentes com agentes químicos quase sempre toma grandes proporções.
Sendo assim as seguintes medidas podem ser adotadas (SOUZA):

MÉTODOS QUALITATIVOS GERAIS

Checklists: Utilizados para identificar fontes de riscos e agravantes em processos e instalações já existentes, através de listas de especificações técnicas e operacionais dos processos, equipamentos e procedimentos.
Análise Preliminar de Perigos (APP): Método simplificado, é Utilizado para identificar fontes de perigo,conseqüências e medidas corretivas simples, sem aprofundamento técnico, resultando em tabelas de fácil leitura.
Análise “What-If?”: Normalmente utilizada nas fases iniciais de projeção. Trata-se de um método especulativo onde uma equipe busca responder o que poderia acontecer caso determinadas falhas surjam.
Matriz de Riscos: Consiste numa matriz onde se busca verificar os efeitos da combinação de duas variáveis.
Um exemplo clássico é o das reações químicas avaliando-se os efeitos da mistura acidental de duas substâncias existentes.

MÉTODOS MAIS DETALHADOS

Análise de Modos de Falhas e Efeitos: Analisa como as falhas de componentes específicos de um equipamento ou subsistema do processo se distribuem ao longo do sistema, entendido este como um arranjo ordenado de componentes inter relacionados. A estima quantitativa das probabilidades de falhas é feita pela técnica de árvore de falhas.
HAZOP (Hazard and Operability Studies): É um dos métodos mais conhecidos na análise de riscos na indústria química, onde uma equipe busca, de forma criativa, identificar falhas de riscos e problemas operacionais em subsistemas do processo.
Verifica-se, por exemplo, o que acontece quando se adiciona mais, menos ou nenhuma substância num tanque de reação. Supostamente, além de se ter um amplo diagnóstico dos riscos existentes, as que passam pelo HAZOP aumentam seu nível de confiabilidade.
Dow e Mond Index: Métodos desenvolvidos pela Dow e ICI para identificar, quantificar e classificar as diferentes seções do processo de acordo com o potencial de risco de incêndios e explosões, providenciando informações para o projeto e gerenciamento de instalações perigosas.

MÉTODOS DE ÁRVORES

Análise de Arvore de Falhas: um método de dedutivo que visa determinar a probabilidade de determinados eventos finais. Busca-se construir a malha de falhas anteriores que culminam no evento final, atribuindo-se uma taxa de falha a cada item anterior que compõe a árvore, chegando-se então à probabilidade final, através da lógica tipo e/ou e do uso da álgebra booleana.
Análise de Arvore de Eventos: é um método similar ao anterior, porém indutivo, pois parte de fainas iniciais buscando identificar as possíveis implicações nos estágios mais avançados do processo.
Análise de Causa e Efeito: É uma combinação dos dois métodos anteriores. Parte-se de um evento intermediário, e então busca-se chegar ao conjunto de eventos anteriores (causas) e, posteriores (efeitos).
Análise de Árvore de Causas: É um método utilizado para acidentes do trabalho.
Utilizado por equipes multidisciplinares, possibilita a eliminação do “achismo” muito comum na análise deste tipo de acidente. Por representar graficamente o acidente, este método pode ser qualificado como uma ferramenta de comunicação entre os que fazem a análise e aqueles que descobrem a história do acidente analisado. Os fatores que ficaram sem explicação, demandando informações complementares, são colocados em evidência aos olhos de todos.
Podemos afirmar que as regras do método, impondo o questionamento sistemático diante de cada fato que figura na árvore, levam a causas remotas, particularmente àquelas ligadas a organização do trabalho, a concepção de máquinas e de instalações, alargando o campo de investigação e evidenciando o maior número de fatores envolvidos na gênese do acidente.
Análise de Conseqüências: É considerada uma técnica final para se avaliar a extensão e gravidade de um acidente. A análise inclui: a descrição do possível acidente, uma estimativa da quantidade de substância envolvida, e, quando for do tipo emissão tóxica, calcular a dispersão dos materiais - utilizando-se de modelos de simulação computadorizados - e avaliar os efeitos nocivos. Os resultados servem para estabelecer cenários e implementar as medidas de proteção necessárias. (SOUZA).


CONCLUSÃO

Apesar de ser pouco provável, esta história tem um lado positivo. Juntando-se a acidentes de
menor escala na década de 70 até o ponto culminante do desastre em Bhopal, houve modificações na regulamentação internacional sobre acidentes químicos. Infelizmente, para aprender as lições, os responsáveis pelas normas de segurança precisaram esperar milhares de mortes para tomar uma atitude.

BIBLIOGRAFIA

AGÊNCIA EFE. Milhares lembram 20 anos de tragédia em Bhopal. Terra, 2004. Disponivel em:<http://noticias.terra.com.br/ciencia/interna/0,OI433281-EI294,00.html>. Acesso em: Fevereiro 22 2012.
AMERICAN UNIVERSITY. TED Case Studies - Bhopal Disaster. American University, 1997.
Disponivel em: <http://www1.american.edu/>. Acesso em: 21 Fevereiro 2012.
CETESB. Emergências Químicas. CETESB - Companhia Ambiental do Estado de São Paulo.
Disponivel em: <http://www.cetesb.sp.gov.br/gerenciamento-de-riscos/analise-de-risco-tecnologico/46- bhopal>. Acesso em: 21 Fevereiro 2012.
GREENPEACE. Bhopal, Índia O pior desastre químico da história. GreenPeace. Disponivel em: <http://www.greenpeace.org.br/bhopal/docs/Bhopal_desastre_continua.pdf>. Acesso em: 21 Fevereiro 2012.
PASSOS, M. Cartilha Assédio Moral nas Relações de Trabalho - Saiba Como se Defender, 2003. Disponivel em: http://www.assediomoral.org/IMG/pdf/Cartilha_Assedio_Moral_Autor_Equipe_Dep_Mauro_Passos.pdf>. Acesso em: 23 Agosto 2011.
QUADROS, C. S. S. D. et al. Assédio Moral no Trabalho. Disponivel em: <http://www.assediomoral.org/spip.php?rubrique1>. Acesso em: 22 Agosto 2011.
REVISTA VEJA. Reportagens - Em Bhopal, o maior acidente. Revista Veja, 1984. Disponivel em: http://veja.abril.com.br/arquivo_veja/capa_12121984.shtml>. Acesso em: 21 Fevereiro 2012.
SOUZA, C. R. C. D. Análise e Gerenciamento de Riscos nos Processos Industriais. SINTESC. Disponivel em: <http://www.sintesc.com/bib/Apostila_de_Gerenciamento_de_Riscos.pdf>. Acesso em: 20 Fevereiro 2012.

O isocianato de metila é um produto utilizado na síntese de produtos inseticidas, comercialmente conhecidos como “Sevin” e “Temik”, da família dos carbamatos, utilizados como substitutos de praguicidas organoclorados, como o DDT. (CETESB)


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